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DIA DOS POVOS INDÍGENAS| POR QUE A DATA É TÃO IMPORTANTE?

Aqui na Pitada Natural, comida e alimentação é um assunto sério! Compreendemos essa discussão de forma completa e complexa, além somente do nosso "funcionamento metabólico". Comer é cultural e, por conta disso, essa data pede um reflexão mais profunda. Neste post vamos falar um pouquinho sobre a questão alimentar indígena e, como exemplo, a dinâmica dos povos Mbyá-Guarani.

Foto: Sebastião Salgado (Reprodução/Instagram)

O dia 19/04 é destinado à comemoração dos povos indígenas no Brasil, criada para celebrar a presença e diversidade da cultura índigena. Um dos motivos que levou a sua criação foi o combate aos preconceitos, além da busca por maior visibilidade política para os povos originários.

Porém, neste dia, ainda vemos muitos estereótipos serem reproduzidos, então, vamos desmistificar algumas destas visões e, claro, falar de um tema que temos mega interesse: comida!


O termo ÍNDIO é defasado

O conceito ÍNDÍGENA é o ideal uma vez que ele expressa a imensa sociodiversidade étnica-linguística dos povos originários no Brasil, diferente de “ÍNDIO”, termo criado em um contexto violento de colonização e que reduz os diferentes troncos étnicos indígenas, as diferentes culturas, organizações sociais, religiões e línguas em um conceitos genérico de “índio”.

Aliás, cabe ressaltar que etnias e raças não são fantasias, então, nada de “se vestir de índio”, prática que se popularizou em uma tentativa falha de homenagem (porém, mais próximo à ofensa).



O termo TRIBO também não é usado uma vez que carrega uma conotação negativa, expressa a ideia de caminho evolutivo, tornando-se um termo pejorativo. Indígenas não fazem parte de uma cultura atrasada, muito menos primitivas. A ideia de desenvolvimento e verdadeiro conhecimento são formas de racismo para com saberes indígenas. A régua que mede a modernidade e o desenvolvimento foi construída pelas sociedades ocidentais industrializadas. E convenhamos, até agora a modernidade se aproxima mais à cataclismas, fome e pobreza, à carros voadores, paz entre as nações e igualdade. Nesse mesmo sentido, os indígenas não precisam ser tutelados, salvos e nem civilizados, pensamentos ainda muito presentes na sociedade envolvente.


Outro equívoco é achar que as culturas indígenas são, ou deveriam ser, congeladas no tempo. Ou seja, “índio de verdade” é aquele cuja imagem remete ao indígena de 1.500. Essa imagem é racista, ofensiva e perigosa, afinal, tal desmerecimento resulta em ataques aos direitos fundamentais. O fato de existirem indígenas vivendo em cidades, urbanizados, bem como grupos localizados em aldeias e que possuem celulares, eletrodomésticos, roupas e artigos do tipo, não cria o stauts de ex-índio, argumento amplamente usado para deslegitimar a pauta da demarcação de terras indígenas. TODA cultura é dinâmica! Todo processo de socialização envolve trocas culturais, no caso, o problema está quando essa relação ocorre por vias violentas e por meio de imposições.


Conversar sobre cultura indígena não é uma tarefa fácil, afinal, são 274 línguas faladas por 305 diferentes etnias, de acordo com dados do IBGE. Isso mostra a importância de sempre buscar informação a respeito da realidade indígena, bem como se informar sobre as pautas e questões que o grupo enfrenta.


De tempos para cá, a extrema violência proferida por garimpeiros, grileiros, agropecuaristas e mineradores frente a existência indígena tem sido exposta e denunciada, porém, ainda não é o suficiente, a medida que várias aldeias encontram-se em situações de risco e vulnerabilidade. O Brasil foi - e ainda é - palco da extinção de dezenas de etnias e mais de centenas de milhares de indígenas foram assassinados desde a invasão do Brasil. Portanto, nesse Dia dos Povos Indígenas, procure saber mais sobre a existência indígena no Brasil e defenda essa causa!


Para discutir um pouco sobre alimentação indígena, escolhemos especificamente um grupo étnico, os Mbyá-Guarani, etnia indígena localizada nos estados litorâneos, desde o Espírito Santo, até o Rio Grande do Sul.

Para os Mbyá, o alimento é concebido tanto na esfera de forma dual: sagrado e mundano. A obtenção de alimento de maneira tradicional para os Mbyá ocorre por meio de três atividades principais, todas voltadas para subsistência do grupo, sendo elas:


Horticultura - atividade mais significativa e a qual fornece as principais fontes de carboidrato. Bons roçados devem ser compostos de diferentes espécies tradicionais, como o milho, mandioca, batata-doce, abóbora, melancia, feijão, tabaco, amendoim, entre outros. Dentre os alimentos enumerados, o milho tem destaque pois constitui um dos alimentos mais sagrados, configurando um alimento espiritual, não somente físico, de forma que tudo que se relaciona a ele está ligado ao sagrado. Só o milho tradicional, chamado de avaxi até, configura seis variedades diferentes.


Estas espécies são mantidas e passadas de gerações em gerações, remontando tempos imemoriais, desde quando elas foram criadas pelas divindades para que pudessem alimentar os Mbyá. Tais alimentos foram mandados pelos deuses para terra habitada e, à medida que consumidos, atingem a perfeição e ascendem ao plano espiritual para viver junto aos Deuses. Cada alimento possui seu espírito, seu Deus em particular que está no mundo espiritual, chamados de “jás” dos alimentos.


Coleta - Parcela pequena dos alimentos consumidos, sendo majoritariamente frutas. Uma boa coleta depende da qualidade da mata e de sua diversidade vegetal, à medida que é realizada apenas quando autorizada pelos Deuses, uma vez que eles permitem que se ache o alimento. Por essa razão, antes da prática são realizados ritos.


Caça - A atividade de caça possui várias regras mágico-religiosas, além de grande riqueza de histórias e contos que servem de alimento também para o imaginário. A caça depende dos “donos dos animais”, sendo proibido usar os animais para qualquer coisa que não a alimentação.


A forma de obtenção e alimentação tradicional dos Mbyá nutre os corpos e os imaginários devido sua densa carga simbólica. Os mbyá acreditam que o corpo reparte-se em dois: a parte sagrada e a mundana. O aguyje (estado de perfeição do ser) só ocorre quando toda parte mundana é eliminada, restando somente a sagrada e, no caso, este processo se dá através da alimentação tradicional.


Até o momento tratou-se da visão tradicional. Tudo muda quando adicionamos a colonização.

Atualmente os Mbyá perderam grande parte de suas terras, restando poucas condições das práticas simbólicas de sobrevivência. As que restaram, estão degradadas, não sendo possível pescar, caçar, coletar e nem plantar, devido às condições do solo. Por isso, o grupo não possui mais condições de produzir de forma correta e suficiente seus alimentos tradicionais, buscando alternativas junto à sociedade envolvente. Mas estas comidas não sanam a fome, afinal, não participam do seu universo simbólico. A preservação ecológica das matas e florestas é indispensável para re(produção) social e cultural indígena.



REFERÊNCIAS

BESSA FREIRE, José Ribamar. Cinco ideias equivocadas sobre os índios (transcrição de palestra). Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivo s/File/pdf/cinco_ideias_equivocadas_jose_ribama r.pdf, acesso em 20/07/2021.


TEMPASS, Martin César. A Doce Cosmologia Mbyá-Guarani. Uma Etnografia de Saberes e Sabores. 2. ed. São Paulo: Editora UNESP, 2012. 430 p.



 

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